quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Memórias do Silencio


Durante minha formação escolar, percebia que ao longo do desenvolvimento das matérias tradicionais eu tinha a sensação de rever o mesmo conteúdo do ano anterior e por vezes era assim mesmo, tinham pequenas alterações pra ficarem de acordo com a faixa de ensino, mas ainda assim parecia sempre à mesma coisa. Infelizmente é o que tenho em minha memória, uma educação sem muito dinamismo e poucas articulações nos temas, tornando o ensino maçante e repetitivo, uma pena! Pois ir a escola, construir saberes e conhecimento real e verdadeiro, antes de qualquer coisa deve ser um ato de prazer e iniciativa.
Em se tratando da Historia do Brasil, a falta de articulação é ainda pior, os conteúdos por vezes eram mera reproduções do que continham nos livros didáticos, eram as mesmas figuras: a chegada dos portugueses em grandes embarcações, escravos negros sendo açoitados, índios sendo catequizados etc. lembro-me de quando chegavam as datas comemorativas, certa vez foi quando o Brasil completara 500 anos de seu “descobrimento”, foi uma “baita” comemoração, todos empolgados na escola, os portugueses eram heróis cantávamos musiquinhas que diziam isso de forma sutil, a mídia ajudou muito nesta “louvável” comemoração, mas não me lembro de reflexões profundas e provocativas e discussões a respeito do que realmente aquilo significava ou, o que era o outro lado da moeda; como crianças achávamos tudo aquilo divertido mas depois não fazia sentido algum.
Aqui vai um exemplo resumido do que foi para mim o ensino de História do Brasil: “... os portugueses descobriram o Brasil no ano de 1500 e os índios foram colonizados pelos portugueses e catequizados pelos padres jesuítas (...) e ai para dar conta da demanda do trabalho nas fazendas que se constituíram, trouxeram os negros da África em navios para o Brasil e aqui eram escravos e trabalhavam pra ter comida (...) muitos anos depois a “heroína” princesa Isabel assinou um documento que abolia a escravidão e assim eles foram libertos (..) Fim”, e o que vem depois? O que aconteceu com os escravos que foram libertos? Para onde eles foram? E os índios? Estavam a onde quando isto aconteceu? Tiveram participação? Essas perguntas não foram respondidas. Descrevi de uma forma irônica o que foi esse ensino, mas que a realidade não está tão longe desta ironia, e o mais interessante é que sequer havia espaço para duvidas e questionamentos, e olha que na minha cabecinha eram muitas do tipo: quem foi o “cara” que pintou isso? Como ele conseguiu? Ele era do Brasil? Porque só as crianças indígenas estão com o padre? E as crianças que tem a mesma cor que eu, onde elas estão? Porque as mulheres negras estão com rostos tão tristes, não vejo sorriso?eles estão sempre bravos? Será que os negros são maus?, pois é, eram exatamente essas as duvidas que surgiam e tantas outras, mas acabava não expondo por achar as aulas um habito corriqueiro e normal; os anos passavam e ficava por isso mesmo, mas o engraçado é que sempre que surgia o assunto tinha um mosquitinho da duvida me beliscando.
Enfim, entrar no curso de pedagogia e fazer parte de uma educação mais humanista foi uma escolha primordial, as discussões e reflexões abriram o campo critico e compreensivo de minha mente e eu consegui fazer um resgate em minha memória e analisar cada item crescendo ainda mais a vontade de fazer diferente ante as possibilidades que as reflexões trazem e ampliar os horizontes, os negros antes de serem trazidos a força faziam parte de uma pátria, uma nação e tinham cidadania, costume, uma historia, uma vida, antes da chegada dos portugueses as terras tupiniquins já eram habitadas pelos índios na verdade foi uma invasão, e que uma assinatura quase que forçada não é suficiente pra tornar alguém herói, por que apesar de abolir a escravidão sequer deram oportunidades para que os negros se reconstituíssem como cidadãos por causa da barreira do preconceito trazendo serias conseqüências sociais ao longo da história.
Isto e muitas outras questões devem fazer parte de um currículo de ensino, de um plano de aula bem elaborado, trazendo as possibilidades de mudança começando por mim e por cada um ampliando a visão e compreensão, quebrando o silencio das duvidas e questionamentos e “alargando as fronteiras” (Paulínia).
Fica aqui minha humilde reflexão e que não para por aqui, pois ainda há muito a ser construído e melhorado, deixo também uma dica de literatura “O Rei Preto de Ouro Preto” autor: Silvia Orthof, muito interessante é ótimo para todas as faixas de idade e para adultos também, vale a pena.                                                                                                 
                                                                                                                                 Por:  Keila Soares  

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